O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a comparar o novo coronavírus a uma chuva, dizendo que 70% da população vai "se molhar", ou seja, ser infectada, mas que apenas idosos ou pessoas que pertencem a grupos de risco terão problemas mais sérios.
"Esse vírus é igual uma chuva, vai molhar 70% de vocês. Isso ninguém contesta. Toda a nação vai ficar livre da pandemia quando 70% for infectada e conseguir os anticorpos", disse hoje em conversa com apoiadores que o aguardavam na portaria do Palácio da Alvorada.
Presidente da República, Jair Bolsonaro
Imagem: Isac Nóbrega/PR
"Destes 70%, uma pequena parte, que são os idosos e quem tem problemas de saúde, vai ter problemas sérios.''
O presidente acrescentou que o que está sendo feito é "adiar" para que os hospitais não fiquem sobrecarregados, mas novamente citou a questão econômica, dizendo que a sociedade "não aguenta ficar parada dois, três meses". "Vai quebrar tudo."
"Por demagogia, até a imprensa ali, está uma disputa entre algumas autoridades de quem está mais preocupado com a vida de vocês", afirmou.
Pelo terceiro dia consecutivo, a saída de Bolsonaro provocou uma aglomeração de evangélicos na portaria da residência oficial da Presidência. Os fiéis gritaram palavras de apoio ao mandatário, que se manteve a relativa distância do grupo, e fizeram uma oração.
Uma apoiadora, também em tom religioso, disse a Bolsonaro que ele fazia parte de um plano de Deus e que "seus melhores dias estão por vir". O presidente respondeu então que não perderia "para esses abutres", referindo-se à imprensa.
Ontem (2), também na portaria do Alvorada, Bolsonaro afirmou desconhecer hospitais lotados no Brasil por conta do covid-19 e que a doença "não é tudo isso que estão pintando".
As declarações diárias, pelas quais Bolsonaro busca minimizar a gravidade da pandemia e desacreditar o isolamento social (medida necessária ao enfrentamento ao coronavírus), têm provocado atritos entre ele e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Em entrevista à rádio "Jovem Pan", o mandatário disse que falta "humildade" ao chefe da pasta da Saúde e que este deveria ouvi-lo mais sobre as decisões no combate ao coronavírus. Apesar disso, deixou claro que não pretende demiti-lo "no meio da guerra".
"O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo. Eu não pretendo demitir o ministro no meio da guerra. Agora, ele é uma pessoa que em algum momento extrapolou. Eu sempre respeitei todos os ministros, o Mandetta também. Ele montou o ministério de acordo com sua vontade. Eu espero que ele dê conta do recado."
Em resposta a Bolsonaro, Mandetta afirmou está focado apenas em "trabalhar".
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